Saúde e Múltiplas realidades

20/07/2022

Onde está sua concentração de riqueza? Será que percebemos a dinâmica que nos cerca? Ou estamos alheios às diferenças que não atingem? Imersos em capsulas de alienação, nos importamos e agimos? Por vezes seguimos alheios a realidades paralelas, como se inexistissem. Mas precisamos relembrar sobre a existência de extremos que separam para encararmos nossa vida valorizando as mais simples oportunidades, agindo de forma consciente em favor do próximo e de nosso próprio bem-estar. Conheça um pedaço do universo da saúde de Guine Bissau.

Em documentário transmitido recentemente pela BBC News, a pauta sobre extremos sociais exibiu um painel com diversos indicadores sobre a discrepância social e financeira no mundo. E o dado que mais chamou atenção, foi a concentração de riqueza material mensurada em 2020, que atingiu a crescente de 3.7 trilhões de dólares, valor associado à soma de todos os orçamentos de saúde do mundo.

O painel indica que 10% da população do planeta concentra mais de 50% da renda total contabilizada. E o Brasil neste panorama, é referência em desigualdade. Sabemos que dentro de nosso território existem realidades conflitantes, abismos que separam ambientes de total escassez com outros de extravagantes oportunidades.

E quando pensamos no contexto de acesso à saúde, é inegável existirem desafios que exijam reformas políticas que abracem com equidade toda a população. Mas, ainda assim, o SUS (Sistema Único de Saúde), consegue, mesmo com deficiências, abranger todos os estados brasileiros. Após a implementação do SUS, a taxa de mortalidade do Brasil caiu, a expectativa de vida de nossa população subiu, o sistema oferece o maior programa de vacinação do mundo, o maior programa de transplantes de órgãos do mundo, é citado por especialistas estrangeiros como referência mundial em atenção primária. Ainda estamos longe do painel ideal, mas, aqui no Brasil não experimentamos problemas recorrentes vivenciados pela república de Guine Bissau, por exemplo.

O voluntariado me aproximou desta realidade cultural que apresenta fragilidades extremas em seu sistema de saúde. Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, uma república marcada por instabilidade política e institucional. As baixas oportunidades de assistência de saúde só sobrevivem principalmente pela cooperação internacional e financiamentos externos. E apesar de haver mobilização social e iniciativas que apoiem a transformação da saúde, Bissau é um país que ainda depende de muitos investimentos e capacitação adequada para atingir condições aceitáveis de vida e saúde assistencial.

A saúde assistencial de Guine Bissau, convive com a escassez de recursos materiais, e também de recursos humanos especializados. Muitos guineenses que se especializam não permanecem no país. As condições sanitárias são precárias, a população não tem condições de precaver doenças através de conhecimento, estrutura sanitária, cuidados preventivos e nutrição básica.

E as categorias mais vulneráveis são as de mulheres gestantes e crianças. Programas ativos para redução da mortalidade materna e infantil buscam engajamento para atuação comunitária, fomentando reconfigurar um painel tão impactante. Conforme dados da Unicef, a mortalidade neonatal em Bissau representa 44% de todas as mortes de crianças menores de 5 anos - o país possui média superior a da África ocidental. E a cada 100 mil nascimentos, morrem 900 mulheres. A taxa de mortalidade materna neste país é uma das mais altas do mundo.

Este ano, conheci Cadija Jalo, uma nutricionista guineense que se formou no Brasil, mas decidiu reingressar para Bissau estimulada em contribuir com o desenvolvimento do sistema de saúde de sua república. E sua especialização apoia o desenvolvimento nutricional de mulheres e crianças de seu país. Felizmente nossa história se entrelaçou e hoje temos a oportunidade de compartilhar experiencias e desafios, que ainda serão muito citados por aqui.

Por vezes seguimos alheios a realidades paralelas, como se inexistissem. Mas precisamos relembrar sobre a existência de extremos que separam e encarar nossa vida valorizando as mais simples oportunidades, agindo de forma consciente em favor do próximo e de nosso próprio bem-estar.

Você concentra a maior riqueza do universo, se dentro de você existe gratidão e disponibilidade para agir. O mundo ideal reside na escolha que acreditamos. A saúde que nos sustenta é um fomento. É a nossa principal concentração de riqueza.

Fontes: BBC News / OMS / Unicef

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