Homem, Saúde, Excessos

19/11/2023

"O homem pode tudo." Todos nós podemos. Mas há uma "autorização velada" para eles, dentro dessa sociedade patriarcal. Eles naturalmente detém mais liberdade de escolhas e geralmente, praticam mais essa autonomia, se comparada ao contexto feminino. Mas essa liberdade, quando desfrutada de maneira inconsciente ou leviana, pode representar uma fuga ou até, sofrimento. Pode reunir padrões viciosos, e ser convertida para uma sensação de cárcere, por conta dos maus resultados. Pode representar má saúde, maus hábitos e baixa qualidade de vida. Nossa educação é culturalmente construída sob padrões sociais que pré-determinam como o homem "deve ser". E essas referências pré-estabelecidas, em sua maioria, não estão na mesma direção que os leva a saúde.  Imersos na sociedade insaciável, estímulos para satisfação inesgotável, mesmo que o custo seja a própria saúde. Mas o homem merece se permitir as melhores escolhas, sem abrir mão de seu deleite. Sem abrir mão de estar bem e encontrar prazer na vida. Para isso, é oportuno assumir positivamente essa liberdade - tão ancestral - ampliar seu bem-estar, e lidera-lo. Pela vida, não somente desejos, mas também, o que é essencial para a longevidade e felicidade plena. O homem pode escolher seu melhor modo de viver. Estabelecer seu próprio conceito de saúde, sem ser aquele que o enquadra com tanto distanciamento do autocuidado. Bem-vindo ao artigo de hoje.

Antes de iniciarmos a reflexão da semana, trago alguns números relevantes:

  • Tabagismo: Segundo a OPAS, 8 milhões de pessoas morrem no mundo, por conta do uso do tabaco. Entre 4 pessoas que fumam, 3 são homens. A notícia otimista é saber que, em 12 anos, caiu em 40% o número de fumantes no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
  • Etilismo: O uso abusivo de álcool, segundo a OMS, causa morte direta em 2,8 milhões de pessoas no mundo, além de contribuir para o desenvolvimento de outras doenças. Um estudo da Vigitel apontou que no país, 18% dos brasileiros estão classificados como "bebedores abusivos". Apesar do consumo de álcool ter elevado entre as mulheres, os homens ainda bebem quantidade equivalente a 3x mais, segundo o IBGE;
  • Obesidade: A estimativa da OMS é que até 2035 mais da metade da população mundial estará com sobrepeso. No Brasil, segundo a Vigitel, os homens lideram o ranking - 57% (dados de 2019) dentre a população com IMC igual ou maior que 25.
  • Expectativa de vida: Segundo o IBGE, a expectativa de vida do homem é 7x menor que a das mulheres. Vida feminina: 80,5 anos, vida masculina, 73 anos.


O homem moderno cada vez mais se preocupa com a saúde. Mas, desmontar a percepção tatuada historicamente no gênero - sobre as permissões ou condições da masculinidade, ainda é preciso. 

A crença distorcida de que o gênero é mais protegido do adoecimento, é uma visão que o distanciou da sua essência de saúde - e ela ainda existe no inconsciente coletivo. 

Por quantas décadas o cigarro foi simbolicamente associado ao estado de imponência e elegância? As gerações anteriores, receberam esses estímulos de camarote, sentado nos sofás de suas casas. E inconscientemente, muitos aderiram a essa "moda". Ainda hoje são necessárias iniciativas de educação preventiva para desmobilizar esse imaginário, transferido para o VAPE.  Hábito vicioso, que causa impotência, carcinomas e morte.

Quantas gerações de homens, em favor do alívio das suas pressões, não fragilizam a saúde? 

No próprio tabaco, no etilismo, na alimentação carregada de açúcares e gorduras. Além da construção do sedentarismo aliado à obesidade, e outras doenças crônicas associadas ao estilo de vida. É neste lugar, que o homem refugia sua "liberdade de expressão" - tão estimulada, autorizada, concebida.

E por quantos milênios o homem aprendeu a ter total controle dos fatos e não assumir os próprios sentimentos? Esse foi o tema do último artigo (confira) e também é fator causal de hábitos de vida dissonantes da proteção da saúde.

O homem jamais pôde render-se a nenhum estado de vulnerabilidade. Aprendeu que as emoções contaminam a racionalidade. Com isso, não sente. Não possuindo historicamente permissão para tocar nas próprias emoções. Estado mental e emocional ocultado: se derramam na ansiedade, na depressão, na insatisfação e em muitos outros transtornos emocionais e tantos estados de angústia.

Ou ainda, reafirma a posição de suspensão emocional como escudo de proteção - desenvolvendo a alexitimia, patologia psicológica conhecida pela ausência de si, e de tudo.

Nesse paralelo a mulher moderna buscando igualdade, também ficou exposta a cometer os mesmos deslizes, trilhando os mesmos riscos.

Os desafios para o homem moderno não são mais os mesmos. Nas cavernas, pela sobrevivência. No hoje, novos duelos para garantir sobrevida. Mas, dessa vez, as ameaças são envolventes e não apresentam de imediato, seus perigos diretos:

Excessos de estímulo e distrações, incentivo à competitividade extrema e ao individualismo, referências digitais fantasiosas, prazer a qualquer custo, ofertas inesgotáveis para moldar um estilo de vida não saudável igual a: insônia, fadiga, depressão, obesidade, vicios, sedentarismo, que evoluem para doenças crônicas e risco de morte.

Tudo parte de nossas escolha. Equilibrar a saúde atravessa vencer os desejos imediatos e todas ofertas não condizentes com o que deseja ser e viver.

O lembrete deve andar nas portas de nossas consciências, ainda que você o prenda no post-it de seu computador, ou no painel de sua geladeira. Cole, tanto lá, como no seu coração: saude, no fluxo.

Até a próxima.