Olhe nos Olhos - Setembro Amarelo
Olhar para as pessoas não é mais tão comum como acreditamos. A dinâmica de interação entre indivíduos se transformou. Adotamos novos métodos de comportamento que interferem no nosso processo de relacionamentos, de saúde, e de adoecimento. As telas nos furtaram do tempo, da solidez, e de muitos encantos. Roletamos informações, perfis, e pratos. Selecionamos pessoas, comidas e fatos. Curtimos fotos, perdemos o foco, e "descurtimos" muitas vidas tão mais vivas, tão mais próximas. Será que há de fato tanto valor para onde nosso olhar é atraído? Que conteúdo tão disponível é esse, que isola, e esvazia? Você realmente se sente preenchido e fortalecido? Que bem te oferta, o conteúdo que lhe rouba atenção? A troca é justa? Somos mentes, congestionadas. Até, perturbadas.Inquietude, solidão, e muitos corações ansiosos. Setembro é amarelo. Cor de alerta para resgatarmos a própria existência, e reaprender sobre a simplicidade.No artigo de hoje, o convite é debruçarmos na vida.
Quem, quando, onde, por quê?
Quando todas essas perguntas estão centradas no SER, e esse EU tão interior sente-se desamparado, desprovido e desconectado de respostas que o reconheçam, é preciso estabelecer um mergulho muito profundo, tomar uma decisão muito poderosa de auto resgate.
Uma demissão, solidão, uma separação, o falecimento de um ente querido, falência, quebra de status social, cobranças externas, pressões diversas, qualquer tipo de medo.
Não importa o pano de fundo.
Seja qual for o luto ou gatilho de estresse. Pode ser qualquer um que o faça duvidar de si mesmo. Quando qualquer situação externa é capaz de fazer do seu mundo interior um lugar sombrio, nublando sua potência de vida, e o valor da sua própria existência, talvez o choro escondido não seja uma etapa suficiente para recompor-se.
Pessoas comuns, passam por circunstâncias inimagináveis.
Uso de álcool e drogas ilícitas, quadros de frequente ansiedade e uma depressão profunda, podem estruturar condições perigosas para uma destruição irreversível. E pode estar bem perto de nós.
Para onde olhamos que não percebemos?
Um caso a cada 40 segundos no mundo. Esse é o dado divulgado pela OMS para mortes com causa de suicidio. Já no Brasil, ocorreu uma elevação de 11% em 2022, em comparação ao ano anterior, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. E são jovens entre 15 e 29 anos, os classificados como mais atingidos e vulneráveis.
Iniciamos setembro. Falar da prevenção ao suicidio, precisa extrapolar o amarelo e os cartazes preventivos. É assunto de 365 dias. De cada hora. A todo instante.
O termo "suicidio" é digitado no youtube a cada 0,27 segundos, e possui aproximadamente 134 milhões de resultados. O termos ansiedade e depressão, 116 e 95 milhões, respectivamente. As pessoas falam, pensam, sentem, e por isso, investigam.
Mas existem muitas etapas que antecedem esses estágios. E o que estamos fazendo por nós mesmos, e pelos outros para interrompermos esse adoecimento coletivo?
Qual proteção emocional estamos garantindo para que tenhamos potência interior? Forças para atravessar adversidades? E para facilitar o caminho de tantas pessoas que cruzam a nossa rotina todos os dias?
O fato é que não olhamos mais uns para os outros.
Acreditamos que todas as respostas da vida estão no mobile, transportado como parte integrante do nosso organismo. E vidrados em mini telas, cruzamos por muitas pessoas ignorando a sua existência.
Um centramento digital que interrompe nossa conexão com a vida. Nossa convivência é mediada pelo wifi que conecta redes mas distancia-nos do calor humano, e da simplicidade que é viver harmonicamente, na vida viva, seja onde for.
Quem somos nós algumas horas desconectados? O mundo para. E a gente, também. Quem te filhos talvez já tenha assistido o filme Wall-E. Retrata bem o que desejo dizer.
Minha proposta para esse setembro, são algumas:
1- Olhe nos olhos de todas as pessoas que cruzarem seu caminho. Se importe, genuinamente.
2 - Caminhe nesse mundo com presença e com vontade de viver esses próximos 30 dias com senso de comunidade.
3 - Quando alguem lhe procurar, dê atenção. Doe alguns instantes do seu tempo com disponibilidade. Priorize essa conversa. Por esse curto instante guarde o seu celular.
4 - Se você estiver com o coração apertado. Extravase. Não sinta vergonha. Busque alguém de confiança, converse. Se preferir, vá a um terapeuta.
5 - Faça pausas e respirações longas e profundas. Se aproprie da beleza de sua essencia.
6- Concentre-se nas boas lembranças e em tudo de bom que o futuro pode proporcionar.
7 - Medita. Concentra-se em você mesmo.
8 - O que te rouba um sorriso? Faça isso, nesse exato momento. Ria sozinho mesmo, até de si mesmo.
9 - Você é a pessoa mais importante nesse momento. O que te acalma? Quer silenciar, ou compartilhar? Você sempre pode escolher.
10 - Escuta a voz do teu coração. Saiba que a vida é uma dadiva grandiosa e que sim, teremos alguns desafios pelo caminho. Mas tudo passa. Tudo.
Eu dedico o meu olhar, um abraço sincero e caloroso, e cada palavra deste artigo para você. Seja qual for a sua posição nesse momento (receptor ou doador desse amor fraterno que proponho).
Estamos todos juntos, nesse desafio perplexo que é viver. Confia.
Confia no quanto cada trajetória é importante. E não somente para nós mesmos.
A verdade é que não imaginamos o quanto um simples ato ou decisão, que a princípio parace tão isolado e particular, reflete em outras historias, em outros passos, em outras vidas.
SER, nesse sopro de existência, tão rara, é uma verdadeira dádiva.
Uma semana de saúde, de fluxo e de alegria, para cada instante do seu viver.