Me olha nos olhos?

13/07/2022

É fundamental para qualquer criança experimentar uma dinâmica inerente da infância: o ato de brincar. Já retomamos nossas vidas, nossas crianças voltaram para as escolas e a vida já se acomodou na "normalidade". Mas os reflexos são aparentes quando analisamos as perdas educacionais e socioemocionais, resultantes da dinâmica de confinamento que experimentamos por conta da pandemia, com menos brincadeiras. O isolamento desafiou as famílias: em alguns casos as aproximou, em outros casos, as desfez. O período fomentou ansiedade, restrição na sociabilização. Em meio a isso, nossas crianças experimentam perdas no desenvolvimento. Se para os adultos já é desafiador gerir as próprias emoções...Nossas crianças também sentiram, e muito. Havia muitas limitações para interagir, descobrir e criar. Foram intensificadas as dependências de eletrônicos. Foi distanciada a dinâmica de uma rotina mais saudável - na alimentação, na educação física, na interação intelectual. Já reestabelecemos nossos dias, e agora? Agora eu te proponho expandir. Expandir a consciência. Porque antes da pandemia, o atropelo dos dias, a profissão e a correria para chegar sabe-se lá onde, também era fator que afastava pais de filhos e crianças do brincar. Interromper um ciclo que vicia e nos repele de acessar uma infância de qualidade é necessário, nessa sociedade moderna que automatiza as relações humanas. Precisamos resgatar os sabores do princípio, da inocência. Resgatar a infância das nossas crianças e dentro de nós mesmos. Brincar olhando nos olhos, reaprendendo a conviver, sorrir e socializar. Preservar a leveza que a brincadeira organiza, capaz de elevar a saúde vital, a energia e a felicidade. Desperte a brincadeira dentro da criança que te cerca, e da que mora dentro de você.

Enquanto já assistíamos brincadeiras ao ar livre serem substituídas pelo entretenimento digital ou passeios em shoppings centers, de repente, nos vimos obrigados a restringir ainda mais a convivência da infância, quando fomos lançados à reclusão da pandemia. E o que nossas crianças perderam?

Durante a pandemia, perderam a liberdade e a interação social. No pós pandemia, percebemos resquícios da dificuldade de lidar com frustrações, na performance criativa, na capacidade de concentração. Mas antes da pandemia, já tínhamos agravantes de uma vida abrupta e excessivamente digital. Contudo, ainda há tempo para recuperar tantos danos. E uma das iniciativas simples é estimular a prática da brincadeira.

O chamado é para resgatarmos com as nossas crianças e adolescentes, ações que possam viabilizar uma juventude mais saudável e mais feliz. Não é à toa que a ONU (Organização das Ações Unidas), estabelece o ato de brincar como um direito universal da criança. A brincadeira potencializa o desenvolvimento infantil, dando forma à capacidade intelectual, social e emocional do adulto do futuro. A brincadeira é uma valiosa ferramenta na construção familiar e na educação pedagógica. As opções são inúmeras, para apoiar o desenvolvimento da linguagem, promover estímulos sensoriais e cognitivos, aprimorar a consciência corporal e a espontaneidade.

Alimentar a criatividade e a imaginação é fator inerente. É por esta troca que a infância apoia a construção de suas relações afetivas, têm melhor capacidade para gerir seus sentimentos e explorar novas experiências. É por meio deste desenvolvimento que é construída a saúde mental e física das crianças, lapidando a sua formação interior.

Precisamos libertar nossas crianças da ansiedade e da depressão, da exposição vazia das mídias, da limitação ilusória, da necessidade de aprovação externa, dos problemas visuais e dos vícios das redes, que já os alcançam, desde bem pequenos. Não é incomum termos filhos participantes de terapias, clamando por atenção, interação saudável, ou pela existência de vazios ou confusões pessoais.

Brincar é respirar ao ar livre, correr, jogar bola. É se expressar no contato com a natureza. É fazer do pique uma maneira para integrar socialmente. É pular corda, é brincar de roda, é fazer um piquenique. É pisar na areia, ouvir e mergulhar no mar. É gargalhar, olhar para o céu. É reagir ao carinho, é ter momentos com a família. É jogar conversa fora presencialmente, é sentir.

E como mãe de dois (de uma criança e de um adolescente), revelo não ser fácil driblar a sedução dos celulares, dos jogos eletrônicos, das séries e desenhos. Por vezes, nós mesmos somos sucumbidos e absorvidos horas a fio nas conexões digitais.

Mas a vida está aqui fora, e o meu compromisso para quebrar esta barreira, é em nome da relação dos meus filhos com o mundo real, de uma relação mais humanizada. Precisamos reconhecer como medimos a qualidade de nossas vidas e de nossa saúde, permitindo revisar o que priorizamos. Nossa saúde e nosso bem-estar se constrói com as escolhas, com os hábitos e com o que desejamos colher.

E assumir este compromisso consciente pela infância e por nós mesmos, é um ato que requer um despertar. Vigiando todos os dias o que podemos decidir de maneira mais adequada para transformar as circunstâncias em melhores fases.

Brincar também e ser leve. É escolher. E isso é regra para todas as faixas da vida. Daqui, uma mãe que escreve cheia de anseios pela melhor saúde e felicidade dos filhos e de todos nas próximas gerações.

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